A cidade de Maputo, outrora marcada por uma arquitetura que refletia sua história e identidade cultural, está a ser progressivamente sufocada por enormes painéis publicitários que cobrem fachadas de prédios antigos e modernos. A proliferação destes anúncios, fruto da ausência de fiscalização efetiva, transformou o horizonte da capital num cenário de poluição visual.
Além do impacto estético, os especialistas alertam para riscos estruturais e de segurança. O arquiteto e urbanista Fernando Armando Cavele explica que muitos suportes metálicos são instalados de forma precária, provocando infiltrações, fissuras e até ameaçando a estabilidade dos edifícios.
A legislação em vigor já prevê regras para evitar situações de perigo — como a resolução nº 78/AM/2007, que determina que os anúncios não devem comprometer a segurança nem ofuscar condutores. No entanto, uma ronda recente pela cidade mostrou que várias placas tapam sinais de trânsito e desvalorizam espaços públicos.
A “poluição visual” também tem reflexos no mercado imobiliário. Segundo Kevin Chabango, presidente da Associação Moçambicana das Empresas do Setor Imobiliário (AMESI), prédios no centro infestados de publicidade perdem valor, enquanto zonas como Sommerschield e Museu, que preservam sua estética original, mantêm preços mais elevados.
Do ponto de vista da comunicação, o excesso de anúncios torna-se contraproducente. O designer publicitário Silver Cossa defende que a saturação visual faz com que a mensagem comercial se perca, confundindo mais do que informando.
Face ao problema, especialistas apelam a uma maior responsabilidade estética. Propõem a criação de normas que harmonizem interesses comerciais com a preservação arquitetónica, garantindo que Maputo recupere a sua beleza e identidade histórica.
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