O sociólogo moçambicano João Feijó, especialista em Estudos Africanos, afirma que, embora o líder interino da Anamola, Venâncio Mondlane, tenha conquistado visibilidade nas mobilizações populares, seu prestígio externo está em queda, pois leva tempos a uma desconfiança diplomática crescente.
Feijó observa que Mondlane tem sido tratado como figura central nos protestos e no discurso público — “quer queiram ou não, seu nome ecoa nos protestos” — o que indica sua presença cada vez mais forte no cenário nacional. Ao adotar uma postura de “injustiçado e excluído”, ele reforça sua relação simbólica com segmentos marginalizados.
No plano internacional, porém, a situação é distinta. Segundo o sociólogo, Mondlane vê-se privado de apoios externos importantes. Neste contexto, Feijó critica o papel da União Europeia (UE) em Moçambique como insuficiente:
“A UE não tem capacidade para influenciar o diálogo político. Preocupa-se primordialmente com estabilidade macroeconómica, proteção das suas empresas, e segurança do capital.”
Para ele, esse vácuo diplomático cria terreno fértil para que a Frelimo manipule as negociações políticas:
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São incluídas vozes consideradas “dóceis” ou fáceis de controlar,
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São excluídas opiniões mais incómodas ou divergentes.
Feijó também chama atenção para a relação entre interesses externos e exclusão interna: ele cita exemplos como os projetos de segurança em Cabo Delgado e investimentos no setor de grafite em Ancuabe e Balama, que servem interesses externos em estratégias que, segundo ele, acentuam desigualdades.
A escolha de Beira para sediar o primeiro congresso da Anamola é interpretada pelo sociólogo como simbólica e estratégica: uma tentativa de mostrar que o partido não é restrito a Maputo, mas se faz presente em todo o país. Beira, com sua história de gestão pela oposição e impacto simbólico, oferece o palco ideal para essa afirmação.
A tensão diplomática entre Mondlane e o embaixador da UE, Antonino Maggiore, também surge no artigo. Mondlane acusou o diplomata de ser “falso” e “irónico”, ao que o embaixador respondeu com silêncio — gesto interpretado por alguns como reflexo da relutância europeia em entrar em conflito direto com ele.
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