A Emirates anunciou oficialmente a suspensão, com efeito a partir de 13 de Outubro de 2025, da venda de bilhetes para Moçambique através das agências de viagens locais. A medida significa que as agências moçambicanas não poderão mais emitir bilhetes diretamente da transportadora, passando a depender de intermediários estrangeiros para as vendas. Essa mudança reflete o agravamento das restrições cambiais e as dificuldades das companhias aéreas em repatriar suas receitas em moeda estrangeira.
Impactos Diretos no Setor Turístico
Em declarações ao Diário Económico, Muhammad Abdullah, Presidente do Pelouro das Agências de Viagens e Operadores Turísticos da Confederação das Associações Económicas (CTA) e CEO da Cotur, confirmou a gravidade da situação. “A informação é verdadeira. A Emirates decidiu suspender o acesso das agências locais ao seu sistema de bilhética, o que na prática significa uma perda total de autonomia operacional. É uma medida com efeitos imediatos e profundamente preocupantes para o setor”, afirmou Abdullah.
Causas e Preocupações
Embora a suspensão tenha sido formalizada agora, Abdullah esclareceu que os problemas que levaram a essa decisão começaram em 2023, com as restrições cambiais e as crescentes dificuldades das transportadoras em transferir suas receitas para fora do país.
“A Emirates é a primeira a tomar uma medida drástica, mas todas as companhias internacionais estão enfrentando o mesmo problema. Se nada for feito, outras seguirão o mesmo caminho”, alertou o líder da Cotur. Outras transportadoras afetadas pelas restrições cambiais incluem Qatar Airways, Ethiopian Airlines, Kenya Airways, RwandAir, TAAG e TAP Air Portugal, que já começaram a limitar a emissão de bilhetes locais, adotando o sistema SOTO (Sold Outside, Ticketed Outside).
Consequências para o Turismo Nacional
A decisão da Emirates tem implicações graves para o setor turístico e para as agências de viagens moçambicanas. Segundo Abdullah, a medida leva à perda de autonomia das agências locais, que deixarão de poder emitir bilhetes diretamente, aumentando os custos operacionais e administrativos com a dependência de intermediários estrangeiros. Além disso, o aumento dos custos e a complexidade logística tornarão as viagens mais caras, afetando principalmente os passageiros corporativos.
Outros impactos incluem a redução do fluxo turístico devido ao aumento das tarifas, a diminuição da oferta de voos e o risco de afastar operadores internacionais e viajantes de Moçambique. Abdullah também aponta o perigo de cancelamento de eventos e conferências devido à instabilidade logística, além da perda de credibilidade institucional do país, que poderia afetar ainda mais a confiança no sistema financeiro e a capacidade do país de garantir estabilidade cambial.
Chamado à Ação
A CTA defende uma resposta urgente e coordenada entre o Governo, o Banco de Moçambique e o setor privado para restaurar a confiança das companhias aéreas e proteger o ecossistema turístico nacional. Abdullah destaca a necessidade de normalizar o acesso às divisas e criar mecanismos transparentes de repatriamento de fundos para evitar um isolamento aéreo progressivo.
“O turismo é um setor estratégico e vital para o desenvolvimento económico e para a imagem de Moçambique como destino turístico e de negócios. Se não agirmos, o impacto negativo se estenderá para outras áreas, como a hotelaria, o transporte e a arrecadação fiscal”, conclui Abdullah.
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